quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Estou completamente Saramagado!!!

Acabei ontem de ler o "Evangelho Segundo Jesus Cristo", do José Saramago. Pus fim, desse modo, a uma terrível lacuna literário-cultural que possuía, que era justamente a de nunca ter lido nada do homem (continuo a ter outras, p. ex., nunca li nada do Lobo Antunes, excepto as crónicas, o que é também pecado capital).
Sempre fui adiando ler Saramago, por várias razões: desde logo, por uma certa antipatia para com o senhor, que é sobranceiro e diz muitos disparates (outro exemplo, mais radical: são o nojo e o asco que nutro pelo Miguel Sousa Tavares que não me permitiram ainda ler o "Equador" que, garantem-me todos que o leram, é muito bom livro, se não mesmo excelente); depois, porque me diziam que lê-lo era dificílimo, e, por isso, fui adiando até me sentir à altura da tarefa; ainda relacionado com o anterior, várias pessoas me diziam que depois de ler um livro do Saramago devia aproveitar-se o treino para ler logo mais dois ou três, o que não sabia se me ia apetecer; e por fim, confesso, tinha um certo preconceito - que o era completamente, por que a desconhecia - quanto à escrita dele.
Pois bem, estou completamente rendido! O Saramago é simplesmente genial! A sua escrita é deliciosa, as suas frases fluem com uma desenvoltura inseperada, a forma como faz os diálogos - sempre tão criticada - é eficientíssima, as conversas ganham uma dinâmica e uma vida como há muito não lia. As pequenas ideias ou comentários paralelos que vai expondo fazem-nos pensar em como é possível alguém lembrar-se dessas coisas e inseri-las tão bem no texto, sem o macular. A imaginação é soberba. Há descrições verdadeiramente emocionantes, belíssimas, que dão vontade de reler várias vezes e chegam mesmo a comover (o encontro entre Jesus e Maria Madalena é uma delas). Ou seja, estou deslumbrado (já cá faltava esta palavra), maravilhado, Saramagado! Já comprei o "Caim", e vou lê-lo de seguida. Afinal, os livros dele sempre se lêem vários de cada vez e em sequência, mas não é para aproveitar qualquer treino, é porque são, definitivamente, deliciosos (bem sei que ainda não li mais nenhum, mas já folheei as primeiras páginas de "Caim" e fiquei logo arrebatado).
Não posso deixar de dar a mais que merecida chancada no bruto, bronco, parolo, burro e intelectualmente pequenino que é o Cavaco, que disse não gostar dos livros de Saramago porque têm muitas vírgulas! (ou poucas, já não me lembro)
Voltando ao início, leiam o "Evangelho" que vale mesmo a pena. Sem querer fazer nenhum spoiler, digo apenas que se termina o livro com um valente murro no estômago, daqueles que atordoam mas que são tão saborosos...
Finalmente, não devia admirar-me tanto: se o homem ganhou o Nobel, deveria haver alguma razão para isso, não?

3 comentários:

  1. Obrigado Pimpinho por não engrossares a torrente do "politicamente correcto cultural" do momento que é dizer-se que não se gosta do Saramago.
    O homem é um escritor do caralho e o resto é treta. Eu que já li uns seis ou sete posso dizer-te: ele é sempre bom.

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  2. Isso de se dizer que os outros são acéfalos e só dizem isto ou aquilo porque é "politicamente correcto", como se as opiniões deles não pudessem ser devidamente ancoradas, é que é uma enorme treta.
    Eu, que já li uns 3 ou 4, posso dizer-te que o tipo é sempre mau... (para mim, claro)
    Opiniões... são como as cerejas, ó... inacreditável personagem cor-de-rosa...

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  3. Ó Anónimo, em primeiro lugar, ninguém disse que quem não gosta do Saramago é acéfalo! O que o espinete disse, e efectivamente constato que é uma tendência geral não se gostar da obra do saramago, não tanto por efectivamente não se gostar do que ele escreve, mas mais porque ele é, de facto, um gajo arrogante e com tiradas sobre o que não lhe diz respeito absolutamente desnecessárias, se não mesmo ofensivas. Por exemplo, como já referi, não consegui ainda ler o Equador do Miguel Sousa Tavares - que toda a gente me diz que é um excelente livro - pela antipatia profunda, asco, prointo, que sinto pelo senhor.
    Em segundo lugar, escusavas de ser tão óbvio a mostrares que és o Castelar...
    Seja como for, grande abraço!
    Ah, e, claro, todos temos o direito às nossas opiniões e a não gostar, de facto e honestamente, da obra do Saramago ou de quem quer que seja.

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