segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Porque não podem ser ordenados padres homossexuais?

Para mim, é óbvio que a homossexualidade é algo de inerente à natureza do indívuo e, por isso, perfeitamente natural (perdoem-me a repetição), não é nada contra-natura, não é uma invenção pérfida de alguns. Atenção, não acho que seja "normal" ou "comum", ou seja, acho que é uma natural excepção à regra, tal como também o são os canhotos e os albinos, por exemplo. Seja como for, para mim a homossexualidade não é uma doença, embora não consiga explicar bem o que é, dadas as imensas condicionantes extremamente interdependentes e interinfluentes que a compõem e determinam, genéticas, congénitas e culturais.

Mas suponhamos, por mera hipótese académica, que a homossexualidade é, de facto, uma doença de nascença, tal como o são a bipolaridade, a epilepsía, ou outras de que agora, por falta de tempo por estar a escrever no trabalho, não me lembro.
Porque raio é que, na igreja católica, não pode um "doente homossexual" ser ordenado padre? Pode ser por ignorância minha, mas creio que nenhuma outra doença que impeça o discernimento das pessoas sejam entraves à ordenação de um homem como padre. Ora, se assim é, porque não ordenar padres homossexuais? Não estão eles, afinal de contas, obrigados ao celibato? Mesmo que a igreja católica condene a homossexualidade, que de facto condena, não deveria estar aberta àqueles que, sendo-o (por doença, não esqueçamos a hipótese que estamos a pôr) mas lutando contra ela, tenham uma vocação e uma fé tais que, tirando o facto de serem doentes, fariam deles excelentes padres?
Eu sou sinceramente respeitador da doutrina da igreja no que ao casamento entre pessoas do mesmo sexo concerne: acho que, dentro dos seus dogmas e conceitos, é perfeitamente legítimo que se considere como impossível a consagração do matrimónio entre pessoas do mesmo sexo - quem não é católico não tem nada que meter bedelho nisso, TAL COMO A IGREJA NÃO TEM NADA QUE METER BEDELHO NO QUE AO CASAMENTO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO CONCERNE. Mas recuperemos o raciocínio. A doutrina católica não permite o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo; se os padres se pudessem casar, tudo bem que não se pudessem ordenar padres que se quisessem casar com outro homem. Mas, mesmo nessa hipótese, não poderia um homossexual, dada a sua crença, vocação e fé, conformar-se com tal situação e, por isso, ser ordenado padre?
Ou seja, qualquer pessoa que enferme de doença que não a diminua mentalmente pode ser padre, mas os doentes homossexuais não.

Alguém me consegue explicar isto, por favor?

3 comentários:

  1. Os militares é que não podem (ou podiam, não sei) ser homossexuais, os padres sempre puderam e ainda podem, mas é verdadeira a hipocrisia da ICAR na luta contra uma coisa normal. Eu convenço-me que tem sempre de haver algo a perseguir, e desta vez a luta é contra os homossexuais.

    Outra coisinha... É um bocado arriscado dizeres "Seja como for, para mim a homossexualidade não é uma doença", porque na verdade não é e ponto, porque não é a consciência de cada um que define o que é ou não é doença. Mas eu percebi o teu ponto de vista. :)

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  2. Se disse "doença", não fou num sentido pejorativo; na verdade, já ouvi muitas pessoas, que não são nada preconceituosas, defenderem uma tese parecida. E, se repararmos bem é difícil definir o que é: creio, sem qualquer certeza nem preconceito, que a melhor maneira de a designar é como sendo uma "condição", uma característica que, sendo perfeitamente natural, representa uma excepção à regra geral - tal como a têm os canhotos, os albinos, etc. Agora, entra-se em situações de fronteiras de contornos que não permitem definir cabalmenmte perante o que estamos. E como cada pessoa é uma pessoa única e irrepetível, e existem tantas sexualidades quanto indivíduos no mundo, às vezes encontrar uma definição (algo que nós, seres humanos, temos uma necessidade quase patológica de fazer) para algo que difere tanto de pessoa para pessoa leva a ser difícil elaborar conceitos e explicações estanques.
    Mas concordo, a homossexualidade NÃO É UMA DOENÇA, PONTO. O que quis, no post, é mostrar que, mesmo que fosse, não faz sentido a atitude discriminatória e censuradora para com eles. Espero ter-me conseguido fazer entender. Mas um dias destes vou postar algo mais complexo e completo sobre o tema.
    Obrigado pela visita! :-)

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  3. Eu percebi bem o que quiseste dizer, só que eu gosto de pormenores, a apeteceu-me pegar como exemplo o que disseste para algumas pessoas (que não tu) perceberem que a sua opinião ou a opinião de outros (que se acham no direito de que o que dizem é mais válido só por seguirem um livro que foi inventado pelos seus antecessores) não se sobrepõe à lei ou à ciência. Graças a deus. sic

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