quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A graça do Traque

Nota prévia: Sei que estou sempre a falar de traques, mas eles fascinam-me, que querem! Este é um post que sempre desejei escrever, desde que apareceram estas coisas dos blogues, mas acabei por nunca o fazer, frustração essa que estou, por isso, neste preciso momento, prestes a resolver.

O traque é a coisa mais engraçada do mundo. É universalmente engraçado, tanto espacial como temporalmente: sempre teve piada, desde o início dos tempos, e sempre a teve em todos os lados e culturas. Por isso, repito, o traque é, para mim, que gosto de os dar e deles me rir, fascinante!

O traque tem piada, desde logo, nas várias designações existentes: traque, desde logo, mas também peido, farpa, bufa, bojarda, entre outros que agora numalembra; até os infantis pu, pum e puzete têm também a sua graça, mais inocente, é certo, mas com graça, ainda assim. Mas é talvez nas expressões existentes para descrever o acto de dar um traque em si mesmo que se encontram as ideias mais engraçadas: desde os clássicos cagar-se, peidar e farpar-se, aos ironicamente ingénuos largar-se, deslargar-se ou descuidar-se, passando pelos mais pesados, dos quais rasgar soalho é o exemplo de maior respeito.

Mas voltemos ao traque propriamente dito.
Para ser engraçado, um traque tem necessariamente de ser sonoro ou de ter cheiro (um traque sem som nem cheiro não chega a poder ser categorizado como traque). Repare-se no entanto que, embora os traques que reúnam ambas as qualidades, som e cheiro, costumem ser dos mais engraçados, essa não é uma regra absoluta.
Há traques com sons tão cómicos que pouco importa se cheiram ou não, como, e apenas a título de exemplo, os bombásticos e curtos POM! tipo explosão, os delicados fiuíí (tanto mais engraçados quanto o final se prolongar), os sucintos e inesperados prrec, os discretos fffffftt e os enormes e medonhos que conjugam alguns destes (sobretudo se com um som húmido), tipo fiuíííííprreeeeec - pausa - ffffftPOM!
Por outro lado, muitos traques têm piada justamente porque não têm som mas apenas cheiro, originando aquelas situações sempre engraçadas em que um cidadão se deslarga silenciosamente numa sala, e fica impávido e sereno, rezando para que ninguém dê por ela, até que finalmente alguém diz "Ui, quem é que se largou?", os restantes não percebem até que o aroma vai chegando a todos os narizes, e rebenta tudo em risota geral, tanto mais intensa quanto mais fedorento for o traque; claro que o criminoso atira logo com um "quem se queixa é quem larga a ameixa", mas raramente se safa de ser descoberto.
(Esta situação também é muito típica quando o casal está na cama a preparar-se para dormir: ele (quase sempre é ele) manda um puzete de pantufas e fica muito calado para não se denunciar, até que a mulher dá por ela e zanga-se (já escrevi um post que aborda este assunto...)

Há também as situações embaraçosas para o autor do traque mas que, vistas de fora, têm imensa graça. Apenas como exemplo, lembro-me daqueles episódios que, no momento não têm piada mesmo nenhuma, mas depois, quando recordados, dão mesmo vontade de rir: o senhor A entra num elevador com alguma necessidade de "largar uma ameixa"; quando não está mais ninguém no elevador, larga-a e, passado umas fracções de segundo, pensa para consigo "que azar, tinha logo de ser dos que cheiram mesmo mal"; já só falta passar um piso para o senhor A chegar ao seu destino e assim se poder escapulir inocentemente, mas logo nesse piso o elevador detém-se e entra a senhora B, que se depara apenas com o senhor A e com o cheirete. Em casos como este, ninguém diz nada e mantêm-se ambos na sua e não se olham, como se nada se tivesse passado, mas nós bem sabemos que: o senhor A, por mais que disfarce, está super envergonhado e apenas deseja poder fugir do recinto; a senhora B, por piedade fazendo de conta que não deu por nada, está a rir interiormente e a pensar "ai tu largaste-te, meu malandro".

Para terminar, deixo a seguinte reflexão: não será o universo o resultado de um grande flato divino? Afinal, ao que parece, tudo começou com um Big Bang...

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