quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Já vi o Avatar!!!

Vi o Avatar no sábado passado. Fiquei deslumbrado. Desde então quero escrever aqui sobre o filme, mas ainda não consegui organizar as ideias para dizer tudo o que me apetece sobre o filme. Como me parece que nunca conseguirei estruturar as ideias da forma que me agradaria, resolvi atirar-me para a frente e escrever, sabendo, de antemão, que vai sempre parecer-me que não disse tudo o que tenho para dizer, e que o que disse o não fiz da melhor maneira.
Que se lixe!
Cá vai, com o aviso que é post para o grandinho:

1 – Optei por ver o filme em 3D. Como disse o Jorge Mourinha, «"Avatar" não precisa do 3D para nada, mas não seria nada sem ele». Ou seja, o filme é completamente assombroso, e não precisa do 3D para o ser, sê-lo-ia sempre. Mas, parece-me, a completa imersão naquele mundo fascinante que se nos apresenta só é totalmente (ou, pelo menos, mais eficazmente) conseguida com o 3D. Mas, repito, creio que isso é um pormenor, não é por aí que o filme fascina – porque fascina.

2 – Tendo a concordar com o que o Núnú (quem és tu, Núnú?) disse no comentário que fez ao meu anterior post sobre o Avatar, que não gosta de filmes com efeitos especiais. Eu também não gosto de filmes de efeitos especiais quando pretendem ser apenas isso, uma orgia de efeitos especiais sem qualquer substrato por trás – penso no “2012”, no “Armaggedon”, no “Impacto Profundo”, no “Independence Day” e em todos os filmes catástrofe que andam na moda há já algum tempo. No entanto, quando um filme usa efeitos especiais para contar mais eficazmente uma história, que vale em si mesma, venham eles. E, muitas vezes, filmes pejadinhos de efeitos conseguem disfarçar, nem se dando por ela de eles lá estarem; entre muitos outros, penso em “Forrest Gump”, em “O Estranho Caso de Benjamin Button”, em “Fight Club”, em “Os Filhos do Homem” (este mostra o parto mais bem conseguido que alguma vi em cinema), em “Braveheart”, em "A Paixão de Cristo". Depois há os filmes em que se notam os efeitos, mas que apenas são usados para contar melhor uma história de qualidade (muitos deles do James Cameron, por acaso): “O Abismo”, “Terminator 1 e 2”, “Titanic” (sim, eu adorei o “Titanic”, e acho que não gostar apenas por causa do orçamento e efeitos é in, é pseudo), "O Homem-Aranha", "Watchmen", "Batman Begins" e "Batman - The Dark Knight", “O Resgate do Soldado Ryan”, todos os “Indiana Jones”, a trilogia “Senhor dos Anéis”, a trilogia “Guerra das Estrelas” (os primeiros filmes, não esta balela que foram as prequelas), “Matrix”, “Jurassic ParK”, “Marte Ataca”, “Distrito 9” (cá puto de filmão!), "Blade Runner", "O Gladiador", entre muitos outros que poderia enunciar.
Onde quero chegar?
Pois bem, Avatar, por mais paradoxal que pareça, sendo um filme feito quase exclusivamente de efeitos especiais, NÃO é um filme de efeitos especiais. Muito rapidamente nos esquecemos que estamos a ver esses efeitos , para passarmos a achar, a ver e a sentir que estamos perante algo que existe mesmo, que é real, o planeta Pandora e toda a sua luxuriante biodiversidade. Como seria possível contar aquela história, mostrar a visão que Cameron teve há mais de 14 anos, sem ser desta forma? Podemos criticar o criador que usa as técnicas e mecanismos ao seu dispor para realizar o melhor possível a sua criação? Podemos não gostar dessa criação apenas devido aos meios utilizados para a conseguir? A minha resposta é, obviamente, não.
(Parece-me que ninguém se lembraria de criticar Peter Jackson por ter feito o Gollum, personagem riquíssimo, que é também ele “um efeito especial” do qual rapidamente nos esquecemos de ver como tal para o apreciarmos em toda a sua complexidade)

3 – Talvez não seja este o momento mais correcto, em termos de organização e sistematização deste post, para passar a falar do enredo de Avatar, mas sinto que o devo fazer já para poder continuar a escrever com a consciência tranquila de que já fiz esta parte. Não se preocupem, não vou inserir nenhum spoiler.
Logo enquanto se vê o filme, e sobretudo depois, lembramo-nos incessantemente de “Danças com Lobos”, pela história, pelo contexto físico, psicológico e da trama, pelas mensagens subjacentes. Apeteceu-me logo escrever esta ideia aqui n’O Pe(r)cebrico, julgando que ia ser muito original; pois bem, quase todas as críticas que li sobre o filme fazem esse paralelismo, pelo que não estou a dizer nada de novo. Acrescento, apenas, que, pese embora Avatar parecer quase um remake de “Danças com Lobos”, tem também um cheirinho e faz também lembrar um pouco, em certos aspectos, “O Último Samurai” e “A Missão”.
Mas será que essa aproximação ao “Danças com Lobos” prejudica o filme? Bem, se, como eu, gostaram (eu adorei) do filme de Kevin Costner, irão gostar deste (ou, como eu, adorá-lo).
Agora, a história de Avatar não é perfeita: tem as suas pontas soltas, algumas passagens bruscas, algumas coisas mal explicadas. No entanto, é suficientemente forte e bem conseguida para que esses pormenores não estraguem o filme. Este é excelente mesmo com esses defeitos.
No entanto, se vão à procura de um enredo absolutamente original e inovador, Avatar não é o vosso filme. Mas são tantos os filmes que, sendo excelentes, não são inovadores nem originais na sua história…

4 – Avatar é uma obra de arte, mais que um filme. A riqueza e o detalhe de Pandora, a imaginação que o envolve e a sua conseguida concretização são suficientes para justificar plenamente ver o filme. Como foi possível imaginar toda uma fauna e uma flora alienígenas ao mais ínfimo pormenor, desde o mais pequeno “insecto” à mais deslumbrante vegetação? Como foi possível imaginar tudo isso de forma coerente, de modo a que tudo faça sentido e encaixe perfeitamente? (Por exemplo, a maior parte da bicheza de Avatar tem 3 pares de patas e 4 olhos, o que, tendo sido uma “opção” evolutiva em Pandora, é normal que seja partilhada por muitos animais, tal como a fauna aqui na Terra partilha imensas soluções evolutivas)
Se não gostarem da história, encarem o filme como um documentário sobre natureza exótica. Avatar merece bem uma comparação com tantos e tantos filmes que deslumbram pela sua fotografia e paisagens naturais.
Sou franco, por mais que diga que o filme é belíssimo, deslumbrante, esmagador ou assombroso, sinto sempre que não consegui dizer tudo o que sinto, ainda o não consegui transmitir (reparem na quantidade de vezes que digo que Avatar é “deslumbrante”). Saí do filme com o peito a doer, esmagado de emoção, tanto que tive logo de ligar à minha gaja (fui ver o filme sozinho) e ao Espinete para poder fazer transbordar essa emoção, partilhá-la com alguém, não conseguia suportá-la sozinho.
Eu sonho muito e muito intensamente, e adoro sonhar. Avatar foi o mais próximo que alguma vez experienciei de sonhar acordado.

5 – Outra coisa que fascina em Avatar é a forma como conseguiram que personagens virtuais fossem tão realistas, tão humanos, tão expressivos ao mais pequeno pormenor – muito mais que o Gollum d’ “O Senhor dos Anéis”, e este já é o que é! O que vemos são MESMO actores a representar, e não bonecos sem alma. Vale a pena ir ao Youtube ver o making of do filme, para ver como, efectivamente, existe trabalho de representação dos actores; para além da já conhecida utilização de fatos especiais, que transmitem para o computador todos os seus movimentos, foi usado um capacete que tem uma câmara apontada directa e centradamente para o rosto dos actores, captando, assim, toda a sua representação a nível de expressões faciais. A quase totalidade das acções dos personagens do filme foram verdadeiramente representadas pelos actores (incluindo as cenas de voo). Que não haja dúvidas: Avatar não é um filme de animação!
Ora, isto coloca um problema pertinente: se um actor maquilhado e caracterizado pode ser nomeado para prémios de interpretação (e ganhá-los), não deveria o trabalho de actores que, no fundo, são também “maquilhados” e “caracterizados”, só que digitalmente, poder ser distinguido com prémios de representação? Já com o Gollum houve quem defendesse que o actor que lhe deu vida, Andy Serkis, devia ter sido nomeado para melhor actor secundário. A diferença da caracterização “normal” dos actores para esta caracterização “digital” não me parece que seja qualitativa, apenas uma questão de grau. E, uma vez que o cinema está a mudar profundamente – e Avatar mostra-o como nenhum outro filme –, não deviam começar a mudar-se os paradigmas e classificações com que se olharam os filmes até hoje?
Não tenho ainda uma resposta clara na minha cabeça, mas parece-me que é inevitável e necessário fazer esse exercício reflexivo, não apenas quanto às representações dos actores, como também no que toca à fotografia, aos cenários, etc. Se necessário for, criando novas categorias de prémios.

6 – Este ano vi pouco cinema, situação que perdura desde que sou pai. No entanto, e com essa ressalva, Avatar, apesar de ser um dos melhores, não é o melhor filme do ano (dos filmes que vi este ano, o melhor foi, de longe e sem hesitação, o “Distrito 9”, que dava todo um outro post). Mas Avatar é, sem qualquer sombra de dúvidas, o mais belo filme do ano. Gostava que fosse distinguido de alguma forma nos prémios de cinema. E, confesso, não me chocaria nem desagradaria que ganhasse o prémio de melhor filme do ano nas várias competições anuais de cinema.

7 – Uma última nota de relevo: James Cameron tem estado sempre na vanguarda das inovações qualitativas do cinema, tem sido sempre inovador, se não mesmo revolucionário. Foi-o com “O Abismo”, sobretudo na cena em que a água ganha vida, que foi precursora do T-1000 de “Terminator 2” (aquela máquina feita de metal líquido); foi-o com este mesmo “Terminator 2”, justamente no T-1000 – o seu corpo de metal líquido que se moldava e mimetizava outras formas é, ainda hoje, quase vinte anos depois, espectacular, e constituiu uma revolução que marcou uma mudança nos efeitos que veio para ficar com o uso do digital nos filmes; finalmente, também “Titanic” constituiu uma revolução na forma como o navio foi conseguido e, sobretudo, as cenas do seu naufrágio – também com este filme as “coisas” mudaram. Mas creio que nenhum desses filmes constitui uma revolução tão profunda no cinema como Avatar.

Tal como previra, sinto que não disse tudo o que queria sobre Avatar e que não consegui transmitir o que sinto neste post. Se, entretanto, me lembrar de mais alguma coisa, volto cá para postar os respectivos acrescentos.

NÃO PERCAM O FILME, CÁRÁGO!!!

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