domingo, 31 de janeiro de 2010

Umbilical Brothers

Estes gajos são geniais. Fica aqui um cheirinho, mas vejam tudo o que puderem deles no Youtube. Conseguem ser sempre surpreendentes...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Excelente comentário a notícia d'O PÚBLICO

Vi hoje esta notícia sobre uma proposta do Procurador-Geral da República (PGR) sobre o texto legal a criar para a adopção por casais homossexuais, notícia que, lá pelo meio, fala também das opiniões do Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados. Se considero que as ideias do primeiro não deviam interferir com o debate político em curso sobre o tema, já a posição do Marinho Pinto é absolutamente inenarrável e aberrante (gosto muito de dizer "inenarrável" e "aberrante").

Dento dos comentários à notícia, o que mais gostei foi este, que transcrevo porque não sei como fazer link para ele:

«E quem lhe encomendou o sermão???
Se o PGR lêsse os documentos que são publicados pela própria Procuradoria-Geral, ficaria a saber que os casos de pedofilia em Portugal, como aliás noutros países, pouco ou nada têm que ver com os homossexuais, pois segundo as estatísticas da PJ, as crianças molestadas são em larga maioria meninas (74,8%), os pedófilos são na maior parte dos casos casados, e numa maioria dos casos são também os pais das crianças!!! Ora, estamos então perante um preconceito. E se o preconceito é "aceitável" ao abrigo do direito de opinião de um particular, torna-se criminoso quando vem da boca de um Representante da República. Idem, para o Bastonário da Ordem, que representa um colectivo que é suposto cumprir a Lei. Ora, a Lei já prevê a adopção monoparental, e se não há inconstitucionalidade no casamento, se houver restricções à adopção estaremos perante uma presunção de culpabilidade ou de risco, que é contrariada pelas estatísticas, e que constitui uma manifesta discriminação. Se não existe presunção de culpabilidade na corrupção, mesmo na presença de indícios, porque haveria de haver na adopção, baseada em meros preconceitos???»


Jorge Silva Marques, Lisboa. 20.01.2010 20:13

Muito mais há a dizer sobre o assunto, mas neste momento não tenho tempo...

LOL do dia

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

União legal de homossexuais: chamar "casamento" ou não chamar "casamento", eis a questão

Encontro muitas pessoas que são a favor de uma união legalmente protegida entre pessoas do mesmo sexo, desde não se chame "casamento", apesar de acharem que deve ter exactamente o mesmo "conteúdo".
Ora, durante muito tempo também eu pensei que se deveria instituir legalmente uma união (chamemos-lhe, de forma algo imperfeita, "matrimonial") entre pessoas do mesmo sexo, mas com nome diferente do de "casamento" - afinal, a própria definição de casal implica dois sexos diferentes, ao contrário da definição de "par" (por exemplo, quem tem um filho e uma filha diz que tem "um casalinho", mas já não diz que tem "um par"; quando se juntam dois animais da mesma espécie mas de sexos diferentes, diz-se que são um casal e que vão acasalar, não que são um par; na sua inversa, digo que tenho um "par de sapatos", não um "casal de sapatos").
Contudo, pensando melhor nesta questão de conceitos, comecei a reparar que as palavras casal, casar e casamento também servem outras situações, aquelas em que temos de juntar duas coisas que sejam iguais e/ou que, sobretudo, se complementem. Diz-se "casar as meias" (a minha mulher está-me sempre a dizer que o não faço...), "esta peça casa com aquela", "esta camisola casa mesmo bem com estas calças", "aqueles dois casam mesmo bem, são mesmo um para o outro", etc.
Ou seja, comecei a reparar que o significado intrínseco da palavra casamento e seus congéneres não é tão certa quanto isso. Pode ser usada para dizer que duas pessoas se complementam, uma completa a outra, o que já não implica em nada a diferença de sexos.
Aqui chegado, comecei a aperceber-me que, por mais que o significado das palavras e estas em si mesmas sejam relevantes, mesmo em termos de reacção psicológica e emocional (por exemplo, para designar o sexo do homem, eu posso dizer "pénis", "pila", "piça" ou "caralho", palavras que, querendo dizer todas exactamente a mesma coisa, têm valorações e suas consequentes reacções sociais, psicológicas e emocionais muito diferentes entre si), acho que isto de não chamar casamento à união de dois homossexuais é uma paneleirice, passe o pleonasmo:
1º - Legal e juridicamente, não faz muito sentido criar um instituto jurídico novo para os homossexuais mas com um regime totalmente igual ao do casamento, só para não lhe chamar a mesma coisa. São um esforço e uma técnica legislativa inúteis.
2º - Quando uma pessoa apresenta o BI ou o CC, lá diz se é casado, solteiro, etc. Ora, acho que seria uma violação da reserva da vida privada de cada cidadão passar a saber-se, pela exibição do BI, que determinada pessoa é homossexual. Pode parecer uma pintelhice, mas não o é de todo.
No meio disto tudo, o que verdadeiramente me preocupa é que, na inenarrável e aberrante hipótese de se vir a fazer um referendo sobre esta matéria, haja muitas pessoas que, embaladas nesta treta demagógica da palavra "casamento", façam com que ganhe o "não", adiando uma vez mais, desse modo, a solução para um problema real e concreto que se traduz numa tremenda injustiça que urge combater. Faz lembrar no primeiro referendo do aborto, em que muitas pessoas que conhecia pensavam votar "não" (ou votaram mesmo) porque achavam que o aborto é uma coisa má, mas, ao mesmo tempo, também achavam que as mulheres que o fizessem não deviam ser criminalmente perseguidas e punidas - ou seja, a sua atenção foi demagogicamente descentrada do problema fulcral e essencial para uma discussão acessória.
Por isso, a acontecer o referendo (valha-nos o Senhor para que não!!!) por favor que ninguém deixe de votar no "sim" só por causa da merda do nome, se, no essencial, concordarem que as pessoas do mesmo sexo devam ter direito a celebrar um contrato em tudo equivalente ao casamento. É que não deve esquecer-se que, legal e socialmente, o casamento não se traduz apenas em declarar o IRS juntos ou de os "cônjuges" serem herdeiros um do outro, como muitos querem fazer crer. O casamento implica um comprometimento jurídico-social muito mais vasto, que engloba os direitos/deveres de respeito, fidelidade, assistência, entre outros, que, sendo violados por uma das partes, pode a outra chegar, inclusivamente, a ser indemnizada por isso.
Não disse tudo o que tenho a dizer sobre esta questão do casamento de homossexuais, mas, de momento, por causa disto, não consegui deixar de escrever este post.

LOL do dia

evan zombies  need tummy rubs
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After waiting for 45 minutes, Roger was starting to fear that his blind date had seen him from the woods and left.
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Hello, Dalai Lama?  Is your refrigerator running?
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I hate it when he does his air guitar solos...
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Espaço Guimarães

Na quarta-feira da semana passada fui pela primeira vez ao novo Shopping, o Espaço Guimarães (EG), ver o filme "A Estrada", sobre o qual conto aqui falar, dentro em breve, em post autónomo.
Cheguei mesmo em cima da hora do filme, pelo que só me deu para ver o EG desde o estacionamento até às salas de cinema. Feita essa ressalva, cumpre-me dizer que o adorei! É muito bonito, muito amplo e espaçoso, com linhas muito suaves e agradáveis (tem, numa zona, um tecto em madeira muito bem conseguido, que parece mesmo a estrutura de um navio, tipo caravela ou assim, virada ao contrário). O estacionamento também é porreiríssimo e modernaço, com aquelas luzinhas no tecto, em cada fila, a indicar que e quantos lugares estão vazios.
No entanto, pelo que ouvi dizer, o EG está às moscas, e já estão a despedir pessoal. Tenho mesmo pena.
Mas outra coisa não seria de esperar num shopping que não tem Fnac, Worten, Bertrand ou qualquer outra loja desse género. Praticamente só tem lojas de roupa. Eu, e muitas pessoas que sei serem como eu, não fico nada atraído por ir visitar um centro comercial que não tenha nenhum tipo de ofertas daquele género. A não ser que queira ir concretamente a esta ou aquela loja comprar roupa, não me parece que lá vá passear, se me faço entender.
A agravar temos o facto de o EG ser fora da cidade, pelo que o Guimarãeshopping (GS) continua a ser muito mais apelativo para se dar uma fugida. Também não ajuda nada a "duplicação de lojas" que existe entre os dois shoppings, como, por exemplo e pelo menos, a Sport Zone, que se encontra em ambos. Mais uma vez, dada a proximidade e acessibilidade do GS, ainda que seja por vezes mais psicológica que real, é muito mais provável ir à Sport Zone do GS que à do EG.
Por isso, ou eles arranjam algum atractivo forte e mais ou menos exclusivo no EG, ou este não vai ter o resultado esperado, por muito bonito que seja.
Uma vez que os cinemas de ambos são da Castello Lopes, eu apostava em passar os filmes mais chamativos e mediáticos no EG, como, aliás, foi feito - e bem - com o "Avatar", cuja versão em 3D só passou no EG. Pode ser que assim consigam ir chamando público até conseguirem outras atracções que sejam mesmo apelativas a lá ir.
Quero ver se lá vou de vez em quando, e exorto todos a fazerem o mesmo, já que seria uma pena que um "Espaço (em) Guimarães" tão bem conseguido não desse certo...

LOL do dia

vladimir putin
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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ah Ah Ah Ah Ah Ah Ah!!! O Cavaco é que é engraçado!!!

Desculpem lá, mas isto é das piadas mais engraçadas dos últimos tempos! Hiper LOL!

LOL do dia

kate beckinsale
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Moitedo: uma espécie em vias de extinção?

Acompanho desde há longos anos, com interesse elevado, a evolução dos pêlos púbicos das senhoras ao longo dos tempos, os quais designo carinhosamente, também desde há longos anos, de "moitedo".
Quando era adolescente, encontrei lá para casa uma Enciclopédia do Sexo e da Vida Íntima, dois enormes e grossos volumes que li avidamente. Posso dizer, sem qualquer brincadeira ou ironia, que aprendi mesmo muito com essa leitura, não só no que ao acto do sexo concerne, mas também quanto a tudo que tem a ver com a sexualidade, a intimidade, e até coisas básicas como a geração, parto, etc - a enciclopédia era excelente, explicava desde o mais básico no que ao sexo concerne até à homossexualidade, os gémeos, o desenvolvimento da sexualidade das crianças e jovens, em todos os seus aspectos, genitais, corporais, psicológiscos, emocionais e mais não sei o quê. Continuo a ter muitas opiniões, hoje em dia, que se formaram com base na leitura dessa enciclopédia.
Mas voltemos ao moitedo.
Nessa enciclopédia, descreviam-se as várias características do corpo e morfologia de ambos os sexos que mais frequentemente suscitam uma reacção erógena no sexo oposto, ou seja, características físicas do homem e da mulher que são normalmente fonte de excitação. Nas mulheres, entre elas e de forma demarcada encontrava-se a forma em V dos pêlos púbicos, cuja visualização, tal como as maminhas, é excitante para os homens. Sempre concordei com isso. E, nas imagens de mulheras "péladas" (como diria o Aleixo) que via na TV, revistas e filmes (desde os mais ingénuos aos badalhocos - eu gosto muito de badalhoquice, não de toda, mas gosto) e, já agora, ao vivo, o V era geral e universal e, efectivamente, algo que fazia "clic" dentro de mim, que me produzia um efeito libidinoso.
Daí ter começado a ficar desgostoso quando, nas tais revistas e filmes (confesso que, neste caso, sobretudo mais nos "para homens", tipo Playboy, e nos menos - ou nada - ingénuos), o V começou progressivamente a desaparecer, transformando-se, primeiro, num rectângulo vertical, que foi diminuindo até ao ponto de parecer o bigode do Hitler, e continuou a diminuir até ser uma minúscula e ridícula linhazinhinha vertical, um I, se quisermos voltar às letras, que, se calhar, mais valia não estar lá.
Pois bem, deve ter sido exactamente isso que as mulheres e os homens que as "promovem" pensaram, porque hoje não há mulher descascada que não tenha extirpado completamente o moitedo do seu púbis. O MOITEDO DESAPARECEU, MEUS AMIGOS! Aquilo que, nos anos 80, na minha pré-adolescência e adolescência, era apenas uma bizarria da Ciciolina (é assim que se escreve?), transformou-se em moda e regra geral.
Porquê o desaparecimento desse lindo arbusto, pergunto eu? Quem é que se excita com uma mulher despelada no baixo ventre? Também me pergunto como é que elas fazem para manter domado o moitedo, já que, tal como a barba, é pêlo que começa a crescer logo nos dias imediatamente posteriores à sua remoção, o que provoca imensas comichices, para além de ficar tenebrosamente feio (sim, eu sei isto porque também já o tive rapado, mas apenas por causa de uma intervenção cirúrgica a que necessariamente me submeti para tirar uma variz no tomate esquerdo e "afinar a gaita"). Será que as senhoras desmoitadas fazem a barba à passarinha todos os dias? Se sim, com que lâmina e espuma? As da Gillete for men? Com máquina? De depilar ou das para barbas rijas, das que as desfazem, aparam e estilizam?
Claro que não gosto de ver uma senhora com um púbis tipo Heavy Metal, mas tirá-lo completamente? Porquê, repergunto?
Resumindo, com grande pena minha, o moitedo é espécie em vias de extinção, e, por isso, e enquanto moitedo lover, exijo que seja criada imediatamente uma área de reserva ecológica protegida para essa líndissima forma capilar, sobretudo focada na manutenção do V.
Subscrições e apoios financeiros aceitam-se e agradecem-se.
Concluo com nostalgia: "V - A Vitória Final".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Separados à nascença

Orson Welles Totally Looks Like Angry Puppy
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A Estrada

Mais um filme que estou em pulgas para ver: "A Estrada", de John Hillcoat, baseado no livro com o mesmo título de Cormac McCarthy, autor de, entre outros, "Este País Não é para Velhos", passado para filme em 2007 pelos irmãos Coen (que, como certamente se recordam, arrecadou imenos prémios, incluindo o Óscar de Melhor Filme).
Voltemos a "A Estrada". Baseado na crítica do Jorge Mourinha, n'O Público, que abaixo transcrevo, e de outras críticas no IMDb, parece-me que o filme deve ser excelente.
A minha mãe pretendia ontem ir ao cinema e sugeri-lhe "A Estrada". Ela gostou muito, tanto que foi a correr comprar o livro para mo oferecer (também estou em pulgas para o ler).
Ou seja, com base nas críticas lidas, parece-me que este filme é uma antítese do "2012" (que não vi) e da sua parafernália de efeitos especiais, apesar de o tema ser semelhante. Por outro lado, todas as críticas que li são unânimes no aplauso às interpretações de Viggo Mortensen e do estreante Kodi Smit-McPhee, reclamando-se Óscares, o negrume e ritmo do filme são também geralmente apontados como sendo de grande impacto e qualidade, e, ainda, a adaptação do livro de McCarthy para a tela é dita como sendo muito boa - se não mesmo excelente - por praticamente todos quanto leram o livro e viram o filme.
Sem mais delongas, aqui vai a crítica do Jorge Mourinha:

«O dia do desespero

O filme que John Hillcoat tirou do romance de Cormac McCarthy é uma viagem sem regresso a um mundo pós-apocalíptico onde a humanidade enfrenta o fim da esperança

Enquanto víamos "A Estrada", demos por nós a pensar que o filme de John Hillcoat apenas vai ter uma fracção infinitesimal dos espectadores que assistiram à super-produção de Roland Emmerich "2012". Vai de si: as pessoas hão-de sempre preferir um apocalipse que "encha o olho", cheio de milagres tecnológicos que salvam o futuro da humanidade à última hora, do que um que nos recorde como a nossa existência na Terra é frágil, à mercê dos elementos e, apesar de toda a esperança, sem salvação garantida.

O apocalipse tem sido assunto recorrente no cinema recente, mas o que Hillcoat faz a partir do romance de Cormac McCarthy ultrapassa a fancaria digital de Emmerich ou até a perturbante visão da metrópole abandonada do "Ensaio Sobre a Cegueira" de Fernando Meirelles. O mundo destruído, moribundo, angustiantemente plausível de "A Estrada" é um daqueles "milagres" que ainda só o cinema consegue criar - um equivalente invertido, cinzento e "flat", da demiurgia Cameroniana de "Avatar".

Não é, no entanto, nessa oposição fácil e gratuita do filme inane de grande espectáculo ao filme intimista de prestígio que reside o discreto triunfo de "A Estrada". Nem no facto do australiano Hillcoat (que apenas conhecemos entre nós do western dos Antípodas "Escolha Mortal", 2005) e do argumentista inglês Joe Penhall terem conseguido adaptar o supostamente inadaptável romance de McCarthy, transcendendo uma pós-produção complicada que viu a estreia do filme, rodado em 2008, atrasada de quase um ano.

Esses factores ajudam, claro, e não é pouco - a par de uma impecável produção artística e técnica (a fotografia cinzenta, dessaturada de Javier Aguirresarobe, o design de produção meticuloso de Chris Kennedy), a par das interpretações assombrosas de Viggo Mortensen e do estreante australiano Kodi Smit-McPhee no papel do pai e do filho que percorrem uma América pós-apocalíptica em busca de uma quimera que talvez já não exista. Mas o verdadeiro triunfo de "A Estrada" é no modo como Hillcoat articula todos esses elementos numa visão angustiante, aterradora, incomodativa, de um mundo morto e sem esperança, onde a humanidade está reduzida a uma selvajaria animal e impiedosa, a uma sobrevivência primal. Onde um homem e um menino procuram, quase como D. Quixote investindo contra os moinhos, manter viva a chama de uma civilização, por mais trémula que ela seja, no mais absoluto negrume.

Hillcoat faz deste mundo perdido em que nos mergulha impiedosamente o palco improvável de uma meditação sobre a herança, a transmissão, a esperança. Inverte de modo hábil as coordenadas habituais do cinema de género e da ficção apocalíptica para as reduzir a um mero esqueleto, amputado de heroísmos e fantasias, do qual apenas resta um instinto tribal de sobrevivência confrontado com um mundo onde todas as referências e padrões desapareceram para talvez nunca mais regressarem e onde o desespero e a morte são perseguidores incansáveis. Talvez haja mais de super-herói neste pai que teima em sobreviver no que em todas as fitas de super-heróis jamais feitas (e não é inteiramente casual que seja Viggo Mortensen, consagrado pelo heróico Aragorn do "Senhor dos Anéis", a entregar-se-lhe com esta paixão). O que reside no fim da estrada que Hillcoat desenha não sabemos, tal como não sabemos o que causou o apocalipse que destruiu a civilização; o que sabemos é que a viagem em que ele nos leva exige um estômago forte (espíritos frágeis, abstenham-se) e nos devolve à realidade singularmente impressionados.
»

[Por: Jorge Mourinha (PÚBLICO)]

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Putas e Vinho Verde, e o Núnú

1 - Acabei de entrar ao serviço, depois de ter ido almoçar à Pavico do Largo da Oliveira e ter mamado três copos de "pinta-beiços" (definição do meu mais que querido amigo EPSB), a.k.a. vinho verde tinto. É, sem dúvida, o meu vinho favorito, assim parôlo como eu. Adoro um bom maduro tinto, mas o verde tinto é uma espécie de marginal dos vinhos, os entendidos nem vinho o consideram, é um outsider. Mas, repito, adoro-o: não é muito alcoólico, tira a sede, tem um carácter de excepção (tipo espécie em vias de extinção) e pinta os beiços como nenhum. Ao que acresce que, ao contrário do vinho verde branco, não tem aquela acidez que quilha o estômago todo. Haverá, pergunto eu, coisa melhor que um bom pinta-beiços? A minha resposta é, obviamente, um não.

2 - Como todos vocês já repararam de certeza, o Núnú é o único seguidor deste O Pe(r)cebrico. Já antes perguntei, mas volto a fazê-lo: Quem és tu, Núnú? Seja como for, bem-vindo sejas, bem-vindo estejas.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Cenas dos próximos capítulos

Sem querer ser presunçoso, revelo aqui algum dos temas que abordarei em novos posts, que o meu tempo é pouco e não dá para escrever com a assiduidade que gostaria, a ver se faço com que mais gente venha visitando O Pe(r)cebrico mais frequente e assiduamente. Assim, entre outros, escreverei mal possa sobre:
- Regionalização (que grande surpresa...);
- Casamento de homossexuais e adopção por homossexuais;
- "Distrito 9", o melhor filme que eu vi este ano;
- A Bíblia;
- Os conceitos de humanidade e de animalidade dos outros seres, cada vez menos distantes e mais difusos;
- "Um filho não se tem, vai-se tendo";
- A praxe;
- As mulheres e o cocó;
- Livros e filmes favoritos: os Gato Fedorento é que têm razão.

Claro que também vou escrevendo sobre o que for surgindo e me for apetecendo, mas gostava muito de conseguir escrever um post sobre cada um destes temas. Se houver algum da vossa preferência digam, que pode ser que me dê ânimo.

Estou completamente Saramagado!!!

Acabei ontem de ler o "Evangelho Segundo Jesus Cristo", do José Saramago. Pus fim, desse modo, a uma terrível lacuna literário-cultural que possuía, que era justamente a de nunca ter lido nada do homem (continuo a ter outras, p. ex., nunca li nada do Lobo Antunes, excepto as crónicas, o que é também pecado capital).
Sempre fui adiando ler Saramago, por várias razões: desde logo, por uma certa antipatia para com o senhor, que é sobranceiro e diz muitos disparates (outro exemplo, mais radical: são o nojo e o asco que nutro pelo Miguel Sousa Tavares que não me permitiram ainda ler o "Equador" que, garantem-me todos que o leram, é muito bom livro, se não mesmo excelente); depois, porque me diziam que lê-lo era dificílimo, e, por isso, fui adiando até me sentir à altura da tarefa; ainda relacionado com o anterior, várias pessoas me diziam que depois de ler um livro do Saramago devia aproveitar-se o treino para ler logo mais dois ou três, o que não sabia se me ia apetecer; e por fim, confesso, tinha um certo preconceito - que o era completamente, por que a desconhecia - quanto à escrita dele.
Pois bem, estou completamente rendido! O Saramago é simplesmente genial! A sua escrita é deliciosa, as suas frases fluem com uma desenvoltura inseperada, a forma como faz os diálogos - sempre tão criticada - é eficientíssima, as conversas ganham uma dinâmica e uma vida como há muito não lia. As pequenas ideias ou comentários paralelos que vai expondo fazem-nos pensar em como é possível alguém lembrar-se dessas coisas e inseri-las tão bem no texto, sem o macular. A imaginação é soberba. Há descrições verdadeiramente emocionantes, belíssimas, que dão vontade de reler várias vezes e chegam mesmo a comover (o encontro entre Jesus e Maria Madalena é uma delas). Ou seja, estou deslumbrado (já cá faltava esta palavra), maravilhado, Saramagado! Já comprei o "Caim", e vou lê-lo de seguida. Afinal, os livros dele sempre se lêem vários de cada vez e em sequência, mas não é para aproveitar qualquer treino, é porque são, definitivamente, deliciosos (bem sei que ainda não li mais nenhum, mas já folheei as primeiras páginas de "Caim" e fiquei logo arrebatado).
Não posso deixar de dar a mais que merecida chancada no bruto, bronco, parolo, burro e intelectualmente pequenino que é o Cavaco, que disse não gostar dos livros de Saramago porque têm muitas vírgulas! (ou poucas, já não me lembro)
Voltando ao início, leiam o "Evangelho" que vale mesmo a pena. Sem querer fazer nenhum spoiler, digo apenas que se termina o livro com um valente murro no estômago, daqueles que atordoam mas que são tão saborosos...
Finalmente, não devia admirar-me tanto: se o homem ganhou o Nobel, deveria haver alguma razão para isso, não?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

domingo, 3 de janeiro de 2010